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Manejo de Tripes em cebola: Identificação, danos e controle.

O tripes é um das pragas mais prejudiciais para a cultura da cebola não somente no Brasil, mas em todo o mundo. No Brasil, a espécie de maior importância é a Thrips tabaci L. Uma infestação severa dessa praga nas lavouras de cebola tem potencial de causar perdas de até 50% na produção (MICHEREFF FILHO et al, 2012). Portanto, saber identificar corretamente esses insetos, além de conhecer o histórico de ocorrência dessa pragas na área é de grande importância para a implantação de métodos eficientes de controle.

 

Identificação e período de ocorrência

 

O reconhecimento do tripés no campo a olho nu é dificultado, pois os insetos tanto na fase jovem quanto adulta são pequenos (no máximo 1 mm) e se abrigam na parte interna das folhas. O tripes apresenta corpo alongado, com asas longas e franjadas, coloração esbranquiçada a verde amarelada na fase de ninfa e amarelo-clara a marrom, quando adulto (Figura 1) (GALLO et al. 1988).

Figura 1. Tripes (Thrips tabaci) adulto. Por: Fernanda Domingues.

 

A maior incidência dessa praga é favorecida por períodos quentes e secos, uma vez que acelera a reprodução e desenvolvimento da espécie. As chuvas, no entanto, reduzem as populações do tripés, por inibirem a dispersão do inseto no campo, além causar a morte das larvas (MICHEREFF FILHO et al, 2012).

 

Danos causados

 

No campo, geralmente, é fácil de ser identificar o dano causado por esse inseto.  Podemos verificar na lavoura, danos diretos e indiretos.

Diretos: ocorrem pela sucção da seiva nos tecidos mais jovens, provocando a diminuição da área foliar e redução da área fotossintética.

Indiretos: são agentes de transmissão de agentes fitopatogênicos, como do vírus Iris yellow spot virus (IYSV), conhecido como “sapeca” em cebolas e podem predispor as plantas à entrada de doenças como a mancha-púrpura, causada pelo fungo Alternaria porri (PICANÇO e DIAS, 2010)

Em consequência ao ataque dessa praga, observa-se, nas plantas de cebola, retorcimento, amarelecimento e seca das folhas (Figura 2). Além disso, o tombamento da planta em decorrência da maturação, também é prejudicada, favorecendo a entrada de água da chuva, ou de irrigação até bulbo, podendo causar perdas por apodrecimento durante o armazenamento (MICHEREFF FILHO et al, 2012).

 

Figura 2. Sintomas do ataque de tripes em folhas de cebola. Por Miquéias Assis.

 

Controle

 

O primeiro passo para o controle eficaz desta praga é a inspeção do cultivo, que deve ser feito pelo menos uma vez por semana, a partir do estabelecimento das plantas, inspecionando-se as “axilas” das folhas e verificando se há sintomas de ataque. Deve-se da uma atenção maior principalmente no estádio de bulbificação (período crítico), onde o ataque de tripés causa as maiores perdas na produção.

O uso de placas adesivas de cor azul tem facilitado o monitoramento desses insetos. Essas armadilhas atraem e aprisionam a praga, possibilitando detectar focos de infestação e a necessidade de controle, ou mesmo para verificar se as medidas adotadas foram efetivas (MICHEREFF FILHO et al, 2012).

A principal ferramenta de controle de tripes ainda tem sido o uso de inseticidas sistêmicos químicos. O controle químico de tripes é muito difícil por ser uma espécie de pequeno tamanho, hábitos crípticos, rápido crescimento populacional e, principalmente, a capacidade de algumas populações de T.  tabaci desenvolverem resistência a inseticidas (Shelton et al. 2003, Herron et al. 2008). Atualmente, existem 49 inseticidas comerciais pertencentes a seis grupos químicos (organofosforados, carbamatos, piretróides, neonicotinóides, espinosinas e análogo de pirazol) registrados para o controle de T. tabaci na cultura da cebola no Brasil (BRASIL, 2020).

O número de pulverizações durante o ciclo da cebola algumas vezes é exagerado e realizado em época inadequada. Tal manejo incorreto pode gerar prejuízos ambientais e econômicos, tais como: aumento do custo de produção; surgimento de populações de tripes resistentes aos inseticidas disponíveis; redução ou eliminação de inimigos naturais; prejuízos a saúde do aplicador; contaminação ambiental, entre outros.

Segundo MICHEREFF FILHO et al, 2012, algumas medidas alternativas têm surgido para complementar ao controle químico, agregando na elaboração de um programa eficiente de manejo dessa praga, tais como:

  1. Realizar o isolamento dos talhões de cebola por data e área;
  2. Prefira cultivares de casca lisa e de pouca cerosidade. Essas característica garantem melhor cobertura e aderência do produto na planta.
  3. Semeadura direta.
  4. Em caso de uso de mudas, privilegie viveiros distantes de campos infestados e do local definitivo do plantio aliado a seleção de mudas sadias e vigoras;
  5. Alocar os talhões no sentido contrário ao vento;
  6. Manejar adequadamente a nutrição da cebola, a fim de evitar deficiências e/ou excessos de adubação, reduzindo a suscetibilidade das plantas ao ataque da praga.
  7. Evitar plantios sucessivos de cebola e alho, adotando sucessão ou rotação com culturas não hospedeiras.
  8. Destruição e incorporação de restos culturais no solo;
  9. Manejar adequadamente a irrigação para evitar o déficit hídrico;

 

A combinação conveniente dessas medidas, podem favorecer o desenvolvimento das plantas, reduzir a infestação na lavoura e diminuir o uso de inseticidas.

 

Autor: Miquéias de Oliveira Assis (Assistente Técnico | DM HF) – Dr. em Fitotecnia.

 

Referências bibliográficas

 

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGROFIT: sistema de agrotóxicos fitossanitários. Brasília, DF, 2003. Disponível em <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_consprincipal_agrofit_cons> Acesso em: 08 abr. 2021.

 

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J. D. Manual de entomologia agrícola. São Paulo: CERES, p.649, 1988.

MICHEREFF FILHO, M.; GUIMARÃES, J. A.; MOURA, A. P.; OLIVEIRA, V. R.; LIZ, R. S. Reconhecimento e controle de pragas da cebola, Brasília: Embrapa, Circular Técnica 110, ISSN 1415-3033, p.1-11, 2012.

 

PICANÇO, M. C.; DIAS, E. N. Manejo Integrado das Pragas do Alho e da Cebola. In: INSETÁRIO, Viçosa: UFV- Universidade Federal de Viçosa, Apostila, p.230-234, 2010.

 

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