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INOCULAÇÃO: O SUCESSO DEPENDE DOS DETALHES!
A cultura da Soja é extremamente exigente em nitrogênio (N), demandando aproximadamente 80 kg de N para cada 1000 kg de grãos produzidos. Se pensarmos em uma área cuja a produtividade seja de 80 sc ha-1, estamos falando de uma demanda de aproximadamente 384 kg de N ha-1. Considerando o atual preço da ureia com 45% de N a 2.240,00 reais a tonelada, isso resultaria em um custo para o produtor de aproximadamente 1.911,46 reais o hectare (para esta estimativa, não foram considerados fatores como a fertilidade do solo e o ciclo do N), o que tornaria o cultivo de soja no Brasil praticamente inviável. Mas graças as bactérias do gênero Bradyrhizobium, conseguimos fornecer para a cultura da soja todo esse N demandado, por meio do processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN).
Embora seja um processo aparentemente simples, para se obter sucesso na inoculação, é preciso que nos atentemos para uma série de detalhes que podem ser determinantes. O primeiro passo é antes de tudo, lembrarmos que estamos trabalhando com microrganismos vivos e, que desta forma, são sensíveis a variações de temperatura, humidade e fontes de alimento. Por estarmos próximo ao início do plantio de Soja e com isso também iniciando os preparativos para tratar as sementes “on farm”, listamos abaixo o que são as dúvidas mais frequentes observadas em campo, em relação a inoculação, e propomos sugestões do que fazer em cada um dos casos, no intuito de ajudar você a melhorar o processo de inoculação e aumentar a produtividade da sua área.

Pergunta número 1:
Preciso fazer a inoculação com Bradyrhizobium todo ano?

Sim! Mesmo áreas que possuem histórico de cultivo de soja, é importante que todo ano seja realizada a inoculação. Pois, embora o Bradyrhizobium seja uma bactéria saprofítica, ou seja, que se alimenta de matéria orgânica. Os solos tropicais brasileiros possuem baixo teor de matéria orgânica e grande parte dessas bactérias morrem, por falta da matéria orgânica como fonte de carbono e glicose para esses microrganismos, durante o período de entre safra, onde não há a cultura para haver relação simbiótica, o que seria uma outra fonte de alimento para essas bactérias. Mesmo em áreas de alto teor de matéria orgânica, é recomendado se fazer a inoculação anual, pois mesmo quando a fonte de carbono e energia para estes microrganismos não é fator limitante, existe o fenômeno de mutação genética desses microrganismos, advindo do cruzamento entre eles, dando origem a microrganismos geneticamente menos eficientes na fixação biológica de N.

Pergunta número 2:
O uso de fungicidas e inseticidas afetam o desempenho do inoculante?

Sim, o uso de fungicidas e inseticidas no tratamento de sementes diminui o número de células viáveis do inoculante, ou seja, reduz a quantidade de bactérias que chegam vivas ao solo. Isso resulta em um menor número de nódulos e consequentemente menor FBN. No entanto, hoje não é possível deixar de fazer o tratamento químico de sementes, devido à grande quantidade de pragas e doenças que acometem a cultura da Soja. Desta forma, a melhor saída é usar os inseticidas e fungicidas que são menos agressivos as bactérias no TS. Cada marca de inoculante, em função da tecnologia de formulação, pode ser mais ou menos sensível a um determinado princípio ativo. Mas de forma geral, um exemplo dos princípios ativos menos agressivos são: Cintraniliprole, tiametoxam, fludioxonil, metalaxyl, tiabendazol e fipronil. Já os mais agressivos aos Bradyrhizobium são imidacloprido e tiodicarbe. É importante que solicitem a empresa fornecedora do inoculante, a tabela de compatibilidade do inoculante com os produtos que deseja usar no TS.

Figura 1. Sementes de soja tradas com diferentes princípios ativos. Fonte: Embrapa

Pergunta número 3:
Qual a diferença entre inoculante líquido e turfoso?

O uso de inoculante líquido tem ganhado cada vez mais força e preferência de uso, por parte dos produtores. Isso tem acontecido principalmente devido a facilidade de uso desse produto. No entanto, quando comparamos inoculante líquído e turfoso em termos de eficiência, o inoculante turfoso é mais eficiente. Isso acontece, devido ao inoculante turfoso ser um meio de cultura com fonte de carbono e glicose para as bactérias. Isso facilita a sobrevivência das bactérias e multiplicação das mesmas desde o período em que o inoculante foi fabricado, até seu vencimento. Por isso, esse tipo de inoculante sempre aumenta uma maior quantidade de bactérias, do que a garantia do fabricante. Esse tipo de inoculante, é ideal para uso em áreas de baixo teor de matéria orgânica, ou que não há histórico de cultivo da cultura da Soja. O mesmo não acontece com o inoculante líquido, pois neste tipo de inoculante, as células microbianas estão estabilizadas. Então, do período em que o inoculante foi fabricado, até o seu vencimento, esse inoculante apresenta curva de decréscimo da concentração de bactérias. Por isso, é sempre muito importante conferir a data de validade destes produtos e as condições as quais os mesmos foram transportados. Os melhores resultados hoje para inoculação on farm, tem sido obtido quando há uso dos dois tipos de inoculantes de forma simultânea (inoculante líquido + turfoso).

Pergunta número 4:
O uso de Azospirillum aumenta a FBN?

O azospirillum é uma bactéria ajuda a aumentar a fixação biológica de nitrogênio na cultura da Soja. Isso acontece, porque embora essa bactéria não forme nódulos e possua relação de simbiose com a planta, ela é uma ótima produtora de ácido indolacético (AIA). O ácido indolacético é uma auxina, um hormônio de crescimento que promove o alongamento celular de gemas apicais, laterais e ápice de raízes, aumentando também o número de pêlos radiculares. Os pêlos radiculares, é por onde o Bradyrhizobium acessa a planta e formando o cordão de infecção que dará origem aos nódulos, posteriormente (Figura 2). Desta forma, o Azospirillum ajuda a aumentar o número de nódulos na cultura da soja, que irá fixar mais nitrogênio.

Figura 2. Emissão de pêlos e aumento de pelos radiculares estimulados pelo uso de Azospirillum. Fonte: Gage 2004.

Pergunta número 5:
Tive problema com baixa nodulação, o que devo fazer?

O Bradyrhizobium encontra o sistema radicular da planta por meio de um fenômeno conhecido como quimiotaxia (Figura 3). Esse processo é a emissão de compostos orgânicos especializados, como isoflavonas que atraem o Bradyrhizobium. Se esse processo de sinalização for interrompido em função de algum estresse pelo qual a planta esteja sendo submetida, muitas dessas bactérias não conseguem encontrar o sistema radicular da planta e acabam morrendo antes de que a planta passe por seu período de estresse e volte a realizar a quimiotaxia.

 

Figura 3. Efeito da secreção de metabólitos na rizosfera. Fonte: Sugiyama 2019.

É imprescindível observar a planta e seu sistema radicular até os 15 dias após a emergência. Pois quando o processo de inoculação foi realizado com sucesso, em V1-V2 já é possível observar a formação de nódulos, que começam na raiz principal (Figura 4).

Figura 4. Formação de nódulos em V1-V2, na cultura da soja. Fonte: Dr. Marcelo Barbosa 2020.

Por outro lado, se a planta chegou no estádio fenológico de V3 e não é possível observar a formação de pelo menos três nódulos, é sinal que houve falha no processo de inoculação e consequentemente na formação de nódulos. Como pode ser visualizado na figura 5, a soja possui dois picos de emissão de metabólitos especializados no vegetativo. Quando o problema é identificado em V3, o produtor pode corrigir aplicando inoculante via barra em área total. Como ainda há picos de emissão de isoflavonas no vegetativo, essas bactérias aplicadas via barra, conseguirão encontrar a raíz da planta para que ocorra o processo de infecção e a formação de nódulos. É importante para esse manejo corretivo, que a barra seja baixada o máximo possível, por que nessa situação, o objetivo é atingir o solo como o máximo de volume de calda. Desta forma, o volume da dose de inoculante líquido deve ser dobrada e o de calda no tanque, de pelo menos 100 l ha-1com preferência de utilização de bico de pulverização com injeção de ar. Isso impedirá que se tenha perdas de produtividade, por falta de nitrogênio no sistema. Para mais informações, entrem em contato com a nossa equipe técnica.

Figura 5. Picos de emissão de metabólitos especializados no vegetativo e reprodutivo. Fonte: Adaptado de Câmara 2014.

Autor: Dr. Marcelo de Andrade Barbosa

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