MELANCIA TRIPLOIDE: JÁ SE PERGUNTOU COMO É POSSÍVEL PRODUZIR FRUTOS SEM SEMENTES?
Nativa do continente Africano, mas muito bem adaptada ao
clima tropical brasileiro, a melancia é rica em vitaminas, sais
minerais e sua estrutura é composta por 90% de água. Considerada a hortaliça de
maior área plantada no Brasil, a melancia, de ciclo trimestral, pode ser
cultivada durante todo o ano, no entanto a melhor época para seu plantio está
entre maio e setembro (Syngenta Brasil).
A melancia é um fruto muito apreciado pelo consumidor
brasileiro, mas muitas vezes rejeitada devido à alta quantidade de sementes,
tamanho e peso elevado, o que dificulta o transporte, armazenamento e
conservação em geladeira. Para atender consumidores cada vez mais exigentes e famílias
cada vez menores, melhoristas e produtores estão desenvolvendo e cultivando
variedades precoces de frutos pequenos (5 a 8 kg) e sem sementes (híbridos
triplóides).
Os frutos híbridos triplóides não apresentam sementes ou,
quando aparecem, são rudimentares. Têm polpa mais rígida, embora com menor
espessura de casca, sendo os açúcares distribuídos por todo o fruto de forma
regular.
Para obtenção de melancia sem semente (triploides; n=33), é
necessário o plantio de variedades com semente (diploides; n=22) na mesma área,
as quais funcionam como doadoras de pólen (variedades polinizadoras), pois as
variedades triploides têm número de cromossomos assimétricos, o que impede uma
produção suficiente de grãos de pólen viáveis (MAYNARD; ELMSTRON, 1992; SOUZA
et al., 1999). Já as variedades diploides possuem grãos de pólen viáveis que
são capazes de germinar e emitir tubo polínico, mesmo no estigma de flores
pistiladas (flores que apresentam apenas órgão feminino, gineceu) das
variedades triploides, e, consequentemente, capazes de promover a liberação de
fitormônios que ativam o mecanismo da partenocarpia, responsável pelo
crescimento e desenvolvimento dos frutos (TAIZ; ZEIGER, 2004; FREEMAN et al.,
2007).
Para evitar baixos rendimentos gerados por possíveis déficits
de polinização, em áreas de melancias triploides, é ideal que se utilize uma
proporção ou frequência de 20% a 33% de plantas diploides, conhecidas como
doadoras ou polinizadoras. Uma razão entre plantas triploides e diploides de
4:1, 3:1 ou 2:1, com uma distância não maior do que 4,5 m entre esses dois
tipos de melancia (NeSMITH; DUVAL, 2001; FIACCHINO; WALTERS, 2003).
O arranjo ou disposição em que esses dois tipos de melancias
são semeadas ou transplantadas no campo também afeta a produção de frutos sem sementes.
Desse modo, as plantas triploides e as variedades polinizadoras podem ser
plantadas em linhas separadas ou dentro da mesma linha.
O método do plantio em linhas separadas estabelece uma linha
inteira dedicada aos indivíduos diploides para cada duas a quatro linhas
inteiras plantadas com indivíduos triploides. Já o plantio de variedades
doadoras de pólen na mesma linha das triploides pode ser feito para reduzir a
distância entre ambos os tipos de melancia. Para isso, pode-se plantar uma
planta diploide a cada duas a quatro covas, substituindo um lugar que
normalmente iria ser ocupado por uma planta triploide, ou intercalar plantas
diploides entre as covas de triploides, o que reduz pela metade o espaçamento
entre essas plantas a cada duas a quatro plantas triploides dentro da mesma
linha, dependendo da razão triploide:diploide escolhida (DITTMAR et al., 2010).
Esse último padrão de arranjo maximiza a presença da variedade sem semente na
área, e consequentemente a produção de frutos sem semente. Para esse método,
devem-se utilizar variedades diploides já melhoradas e desenvolvidas para esse
tipo de arranjo, ou seja, variedades doadoras de pólen que não atrapalhem o
desenvolvimento das plantas triploides adjacentes, já que o espaçamento entre
elas está reduzido pela metade, e que também produzam mais flores estaminadas (flores
que apresentam órgão masculino, androceu) por planta e grãos de pólen por
estames (FREEMAN et al., 2007).
É importante utilizar variedades diploides que produzam
frutos comercializáveis, já que até 33% da área destinada para produção de
melancia sem semente poderá ser ocupada por plantas que produzirão frutos com
semente. Além disso, as variedades doadoras de pólen devem ter um padrão de
coloração da casca diferente das variedades triploides para fácil distinção e
separação durante a colheita, e, consequentemente, a comercialização adequada
para cada tipo de fruto produzido (MAYNARD; ELMSTRON, 1992).
Todo esse manejo diferenciado ainda não garante uma real
produção de frutos, pois é indispensável a presença de abelhas, que têm um
papel indispensável na transferência dos grãos de pólen providos pelas
variedades diploides para o estigma das flores pistiladas triploides, o que,
consequentemente, promove a produção dos frutos esperados (MAYNARD; ELMSTRON,
1992).
Além do mais, para a produção de melancias sem sementes, as
flores pistiladas necessitam de um número muito maior de visitas de seus
polinizadores do que se exige na produção da melancia convencional, para que se
atinja a quantidade ideal de grãos de pólen viáveis em seu estigma. Nesse
sistema, em uma mesma visita, as abelhas, inevitavelmente, transferem às flores
pistiladas tanto grãos de pólen viáveis (oriundos das flores estaminadas
diploides), como grãos de pólen inviáveis (oriundos das flores estaminadas
triploides), sendo que esses últimos não contribuem em nada para o vingamento e
desenvolvimento dos frutos (WALTERS, 2005).
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Referências:
Embrapa. A cultura da Melancia. Coleção Plantar.
Brasília-DF, 2007.
Syngenta. Disponível em: https://www.instagram.com/syngentabrasil/.
Acesso em: outubro de 2020.
DITTMAR, P. J.; SCHULTHEIS, J. R.; MONKS, D. W. Use of
commercially available pollenizers for optimizing triploid watermelon
production. HortScience, v. 45, n. 4, p. 541- 545, 2010.
FIACCHINO, D. C.; WALTERS, S. A. Influence of diploid
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HortTechnology, v. 13, n. 1, p. 58-61, 2003.
FREEMAN, J. H.; MILLER, G. A.; OLSON, S. M.; STALL, W. M. Diploid
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yield. HortTechnology, v. 17, n. 4, p. 518-522, 2007.
MAYNARD, D. N.; ELMSTROM, G. W. Triploid watermelon
production practices and varieties. Acta Horticulturae, v. 318, p. 169-173,
1992.
NeSMITH, S.; J. DUVAL. Fruit set of triploid watermelon as a
function of distance from a diploid pollenizer. HortScience, v. 36, n.1, p.
60-61, 2001.
SOUZA, F. F.; QUEIRÓZ, M. A.; DIAS, R. C. S. Melancia sem
semente. Desenvolvimento e avaliação de híbridos triploides experimentais de
melancia. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, v. 9, n. 2, p. 90-95,
1999.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004. 719 p.
WALTERS, S. A. Honeybee pollination requirements for triploid watermelon. HortScience, v. 40, n. 5, p. 1268-1270, 2005.
BOMFIM, I. G. A.; CRUZ, D. O.; FREITAS, B. M.; ARAGÃO, F. A. S. Polinização em Melancia com e sem Semente. Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza-CE, 2013.
Júlio Cesar de Lima Veloso - Assistente Técnico Araguaia nte Técnico Araguaia